¿Hambre? é a pergunta que tem ecoado por territórios na América Latina para orientar processos gráficos em gravura. Através do coletivo Marisquería Gráfica, criado na Universidade Autônoma do Estado do México (UAEM), na cidade de Toluca, surge a pergunta que orientou nove processos criativos de estudantes e de uma professora, em 2018.
No ano seguinte, as gravuras criadas no México foram postadas via correio para a Universidade do Museu Social Argentino (UMSA), onde mais 10 artistas guiaram a criação de poéticas visuais que responderam à pergunta inicial e/ou criaram um eco contínuo de novas indagações.
Em outubro de 2022, os processos de criação de nove pesquisadores do curso de Artes Visuais da UFOB foram iniciados e adentraram universos diversos. Aline Mekhane trabalha o alimento na perspectiva poética da fome de conhecimento, enquanto Beatriz Carvalho traz a abundância sadia dos alimentos cultivados pela agricultura familiar; Andreia Souza oferece o leite materno como conexão entre mundos e Isaque Xavier se debruça nos galhos, folhas, raízes e frutos do ymbu da caatinga.
Pensando a fome como a falta, Vivas Almas e Dielly Alves propõem uma reflexão sobre a morte pela fome e sede como projeto político, ao passo que, para a pesquisa de Débora Rocha, escasso é o ar. Violeta Pavão e Nara Souza adentram a investigação da fome pelo corpo, daquele que precisa levantar e do que, para comer, envenena.
Além da pesquisa em gravura, os estudantes adentraram os processos de curadoria, montagem e monitoria da exposição, ampliando os aprendizados das disciplinas Gravura e Laboratório de Gravura, lecionadas no curso de Artes Visuais, ao criarem um espaço transitório expositivo, já que o Centro Multidisciplinar de Santa Maria da Vitória ainda não dispõe de espaço adequado para isso e, desta forma, desenvolveram um aprendizado integral a partir desta experiência expositiva. Ensino, pesquisa e extensão puderam ser integrados dentro deste projeto.
Com 29 obras dos três países, foi aberta, no dia 3 de abril de 2023, a Exposição Internacional de Gravura ¿Hambre? Fome?, no Centro Multidisciplinar de Santa Maria da Vitória da UFOB, que ficou duas semanas em exibição. As pesquisas em gravura foram desenvolvidas em diversas técnicas como xilogravura, gravura em caixa de leite, linoleogravura e calcogravura (ponta-seca, água-forte e água-tinta), entre outras.
As obras se dividiram em duas bandejas visuais: de um lado os trabalhos realizados no México e Argentina e do outro, os trabalhos realizados e os paineis dos processos criativos das gravuras dos artistas da UFOB. Além disso, contou com a exibição de três vídeos das artistas mexicanas Paulina Uribe, Fernánda Rodríguez, Vania Dale falando sobre seus processos criativos e um vídeo de Yessica Diaz, artista, professora da UEAM e proponente do projeto, explicando o nascimento do projeto e sua continuidade. O envelope que carregou as obras de Lima (onde o projeto ficou parado por conta da pandemia) ao oeste baiano também foi exposto a fim de trazer o trânsito das obras como parte da curadoria.
Recebemos mais de 100 estudantes do ensino médio de Santa Maria da Vitória, do Centro Educacional Ivani Bueno Marques, do Colégio Estadual Rolando Laranjeira Barbosa, Centro Territorial de Educação Profissional da Bacia do Rio Corrente (CETEP) e a Cooperativa de Trabalho Educacional de Correntina (COOTREDUC). As visitas contaram com o suporte dos estudantes do projeto que fizeram a monitoria da exposição, além da visita aos ateliês e espaços da universidade, aproximando a comunidade estudantil dos cursos de Publicidade e Propaganda e Artes Visuais.
Além dos 29 artistas que expuseram suas obras, o projeto contou, na UFOB, com oito estudantes do curso de Publicidade e Propaganda que se juntaram para somarem na comunicação do projeto e design, fazendo a rede com rádio, jornal e tv local; desenvolveram as artes do projeto e criaram e alimentaram o Instagram @hambre_fome.
O estudante Allan Pablo também se juntou ao projeto para a criação da xilogravura de identidade do projeto. Também colaboraram com o projeto a equipe de limpeza, manutenção e administração da UFOB. A exposição firmou parceria com o Estúdio Mandacaru, Prefeitura de Santa Maria da Vitória, West - Comunicação Visual, Mangô- Agência Digital, Rede Erguer e ConstruRamos, envolvendo comerciantes locais e órgãos públicos no apoio à educação superior gratuita e de qualidade.
Agradecemos aos artistas da argentina, Azul Angulo Farías, Daira de Gruttola, Delfina Nelson, Graciela Costanza, Magdalena Martínez Zavalia, Maria Mercedes Ovejero Yarade, Pablo Delfini, Paula Kuperman, Rocío del Milagro Barzola, Valeria L. Adrover; aos artistas do México Alondra Ruiz, Carlos Arturo Tejeda, Fernánda Rodríguez, GabyPluton, Ingrid Pulido, Melissa Mayorga, Paulina Uribe, Un Pez, Vania Escamilla, Yessica Díaz; aos artsitas do Brasil, Andreia Pereira, Aline Mekhane, Beatriz Carvalho, Débora Rocha, Dielly Alves, Nara Souza, Isaque Xavier, Violeta Pavão, Vivas Alma Cruz; à equipe de comunicação e design Elen Cristina da Silva Pereira, Maicon Oliveira Moreira, Hércules do Nascimento Melo, Gabriel Souza Guedes, Jailda Cardoso dos Santos, Kaua Pajuelo Barbosa de Souza, Kiko Brito, Bia Carvalho e a todes que de algum modo apoiaram o projeto.
+ GALERIA: Exposição na FLIB.
Fotos: Mangô Agência Digital
Em seu segundo ciclo, à convite do Projeto Despertar, ação do Núcleo de Gestão dos Programas de Ações Afirmativas, da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assuntos Estudantis e com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFOB, a exposição seguiu viagem para Barreiras, maior cidade do oeste baiano, nos dias 23, 24 e 25 de maio, para integrar a programação da Feira Literária Internacional de Barreiras (FLIB). Durante os três dias de feira, recebemos mais de 300 estudantes da rede pública municipal e estadual de ensino, além de público da UFOB, UNEB, IFBA e público espontâneo da comunidade barreirense.
Ao final desta exposição, as obras foram enviadas para a Universidade de Antioquia, em Medellín, Colômbia, na qual o projeto de pesquisa se reiniciará com a produção de mais dez imagens e todas as obras serão expostas juntas. As gravuras seguem integrando territórios, estudantes e professores na América Latina, sem data para acabar.
Violeta Pavão é graduada e mestre em Arte na área de concentração Arte e Cultura Contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); professora efetiva no Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFOB desde 2019. Trabalha com performance há mais de dez anos e pesquisa as relações entre corpo, arte e educação.
Comentarios